Viagens na Minha Terra é um livro da autoria de Almeida Garrett; obra na qual se misturam o estilo digressivo da viagem real (que o autor fez de Lisboa a Santarém) e a narração novelesca em torno de Carlos, Frei Dinis e Joaninha.
O livro Viagens na Minha Terra, publicado em volume em 1846, é o ponto de arranque da moderna prosa literária portuguesa: pela mistura de estilos e de gêneros, pelo cruzamento de uma linguagem ora clássica ora popular, ora jornalística ora dramática, ressaltando a vivacidade de expressões e imagens, pelo tom oralizante do narrador, Garrett libertou o discurso da pesada tradição clássica, antecipando o melhor que a este nível havia de realizar Eça de Queirós.
Mas a obra vale também pela análise da situação política e social do país e pela simbologia que Frei Dinis e Carlos representam: no primeiro é visível o que ainda restava de positivo e negativo do Portugal velho, absolutista; o segundo representa, até certo ponto, o espírito renovador e liberal. No entanto, o fracasso de Carlos é em grande parte o fracasso do país que acabava de sair da guerra civil entre miguelistas e liberais e que dava os primeiros passos duma vivência social e política em moldes modernos.
Esta obra de Almeida Garrett é considerada o passo inicial da prosa literária moderna em Portugal. Isso se deve aos elementos que a configuram como: narrativa puxada para a oralidade, mistura de linguagem popular e clássica, mistura do gênero jornalístico com o dramático e imagens e expressões ressaltadas. Todos os elementos citados foram de profunda importância para a libertação da literatura portuguesa da tradição clássica, fatores que influenciaram outro grande nome português, Eça de Queirós, um dos maiores escritores lusos, autor de Os Maias e O Crime do Padre Amaro.
A obra pode ser analisada como um apanhado da situação que Portugal passava na época, século XIX, abrangendo sua posição política e social. Os dois personagens, Frei Dinis e Carlos, são representações (símbolos) do país naquele tempo. O primeiro pode ser entendido como a imagem do Portugal velho e absolutista, com tudo que carregava e positivo e negativo. Já o segundo é representante das características liberais e inovadoras. Entretanto, o mesmo Carlos que simboliza a inovação é o retrato do fracasso de um país que saia de uma guerra entre liberais e miguelistas. Joaninha, menina-moça de olhos verdes, é a figura que melhor representa a vida campestre, a pureza e a antítese dos valores citadinos.
A fase histórica que Portugal passava na época era a Revolução Liberal, um movimento de cunho liberalista. Como as ideias liberais eram contrárias às religiosas, consolidadas no Portugal monarca, a revolução ficou taxada de “inimiga do trono e do lar”. No ano de 1830, essa disputa entre Conservadores (Absolutistas) e os Liberais (Constitucionais) acaba tornando-se uma Guerra Civil, terminando com a vitória Liberal.
O livro termina com uma metalepse, que é o encontro do autor com a sua ficção, o escritor torna-se elemento da narrativa, interagindo com as personagens.
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