A Hora da Estrela foi o último livro publicado em vida pela escritora brasileira Clarice Lispector. O romance narra a história da datilógrafa alagoana Macabéa, que migra para o Rio de Janeiro, tendo sua rotina narrada por um escritor fictício chamado Rodrigo S.M. É talvez o seu romance mais famoso, sendo adaptado para o cinema por Suzana Amaral em 1985.
O romance narra as desventuras de Macabéa, uma moça sonhadora e ingênua, recém-chegada do Nordeste ao Rio de Janeiro, às voltas com valores e cultura diferentes. Macabéa leva uma vida simples e sem grandes emoções. Começa a namorar Olímpico de Jesus, que não vê nela chances de ascensão social de qualquer tipo. Assim sendo, abandona-a para ficar com Glória (colega de trabalho de Macabéa), cujo pai era açougueiro, o que sugeria ao ambicioso nordestino a possibilidade de melhora financeira.
Sentindo dores constantes, Macabéa vai ao médico e descobre que tem tuberculose, mas não conta a ninguém. Glória percebe a tristeza da colega e a aconselha a buscar consolo numa cartomante. Madame Carlota prevê um futuro feliz, que viria de um estrangeiro que ela conheceria assim que ela saísse daquela casa, homem louro com quem casaria. De certa forma, é o que acontece: ao sair da casa da cartomante, Macabéa é atropelada por uma Mercedes amarela guiada por um homem loiro e cai no asfalto onde morre.
Além da história de Macabéa, há no romance a história de Rodrigo S. M., o narrador, e a descrição do processo criativo (discurso metalinguístico). Rodrigo e Macabéa não fazem parte do mesmo espaço periférico, esta por sua condição de retirante e aquele por ser visto com maus olhos pela classe média e não conseguir alcançar pessoas como Macabéa.
Toda a expressão do texto é para se explicar. Rodrigo acaba priorizando o relato dos recursos textuais a falar de Macabéa, que ironicamente só ganha papel de destaque perto da hora de sua morte. É nesse ponto que compreendemos o significado do título: A hora da estrela é a hora da nossa morte, pois, nesse momento, o ser humano deixa de ser invisível às pessoas, que percebem que ele existe apenas quando já não existe mais.
Clarice adota discurso regionalista em A hora da estrela, algo incomum em suas obras. Através da personagem Macabéa, a autora descreve uma nordestina que tenta escapar da miséria e do subdesenvolvimento, abandonando Alagoas pela possibilidade de melhores condições de vida no Rio de Janeiro. Clarice foi muitas vezes criticada por se afastar da literatura regional emergente do modernismo.
Em A hora da estrela, ela foge do "hermetismo" característico de suas primeiras obras e alia sua linguagem à vertente regionalista da segunda geração do modernismo brasileiro. Na época da publicação, o crítico literário Eduardo Portella falou do surgimento de uma "nova Clarice", com uma narrativa extrovertida e "o coração selvagem comprometido com a situação do Nordeste brasileiro".
Clarice comentou A Hora da Estrela em sua única entrevista televisionada, concedida em fevereiro de 1977 ao reporter Júlio Lerner para a TV Cultura, de São Paulo. Na entrevista, ela menciona que acabara de completar um livro com "treze nomes, treze títulos", embora ela tenha se recusado a citá-los. Ela diz, que o livro é "a história de uma moça, tão pobre que só comia cachorro quente. Mas a história não é só isso, é sobre uma inocência pisada, sobre uma miséria anônima. Na mesma entrevista, Clarice diz que usou como referência para Macabéa a sua própria infância no nordeste brasileiro, além de uma visita a um aterro onde nordestinos se reuniam em São Cristóvão. Ela diz ter sido neste aterro que ela capturou "o ar meio perdido" do nordestino na cidade do Rio de Janeiro. Outra inspiração para a trama do livro foi uma visita que Clarice fez a uma cartomante. Na época, ela imaginou como "seria engraçado se na saída, ela fosse atropelada por um táxi depois de ouvir todas coisas boas que a cartomante previra.
O romance foi escrito à mão em diversos fragmentos de papel, a partir dos quais Lispector, com a ajuda da sua secretária Olga Borelli, compôs a versão final do romance. O livro foi publicado em 26 de outubro de 1977, pouco antes da autora ingressar no hospital do INPS da Lagoa, no Rio de Janeiro.
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